A impressionante sucessão de portões (tori) na colina do Fushimi Inari Taisha (Photo: tonchin2022 / Pixabay)

Explorar Quioto sem Explorar a Carteira

Itinerário "low cost" para um dia em Quioto

A antiga capital imperial do Japão é ainda hoje uma cidade cheia de charme. A abundância de templos e a coexistência dos bairros históricos com a modernidade urbana fazem desta cidade uma das mais emblemáticas do Japão. Ninguém quer perder a oportunidade de visitar Quioto, mas como o fazer sem criar um défice no orçamento? Propomos aqui um itinerário com o mínimo de despesas, para que ao fim do dia sinta que se encheu de boas memórias e não ficou mais pobre por isso.

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Este itinerário em Quioto começa bem cedo, pois há muito para explorar e a cidade não é pequena! Propomos que esteja logo ao nascer do sol a caminho de Arashiyama, na zona noroeste da cidade. Assim poderá visitar o emblemático bosque de bambu antes da chegada dos primeiros autocarros carregados de turistas. Deixe a tranquilidade do bosque penetrar nos seus sentidos e desfrute do silêncio especial da manhã. Sabia que este bosque é uma das "100 paisagens sonoras do Japão"? A classificação foi dada pela Agência Imperial do Património Cultural e define espaços multissensoriais que espelham os valores essenciais da sensibilidade nipónica. Consegue ouvir o bambu a crescer?

Consulte este artigo para ficar a saber quão especial é Arashiyama e como lá chegar.

Depois da visita a este paraíso natural, dirija-se à estação Saga-Arashiyama e apanhe o comboio da linha San-In (só há uma direcção, porque Saga-Arashiyama é o início da linha). Saia na estação Emmachi. O percurso de comboio irá demorar pouco mais de seis minutos. Em frente da estação de Emmachi siga a pé para a Nishioji Dori (dois minutos), pois em Nishinokyo Encho deverá apanhar o autocarro número 203 na direcção norte. Após três paragens desça do autocarro, em Kitano Hakubaicho. Após sair do autocarro, atravesse a rua Nishioji Dori e dirija-se para Este. Atravesse o rio Tenjin e continue a seguir esta rua mesmo quando faz uma ligeira curva à esquerda. Irá ter à porta do Santuário Xintoísta Kitano Tenmangu.

Talvez precise um cafézinho, não? A saída cedo talvez lhe tenha roubado a oportunidade de tomar pequeno-almoço, será? Em todo o caso recomendamos que visite o café "Castella do Paulo", ao lado da entrada do Kitano Tenmangu. Paulo Duarte (português) e a sua esposa (japonesa), abriram este café para dar aos habitantes de Quioto a oportunidade de degustar os autênticos doces portugueses e o maravilhoso café ao gosto luso. Pão de ló, pastel de nata, etc., etc. Mate o bicho para o resto da manhã, que ainda temos muito que andar!

Visitar o Kitano Tenmangu é uma viagem no tempo, e melhor ainda, é gratuito. O santuário foi construído por volta do ano 950 d.C., e manteve a sua grande popularidade porque a principal divindade aí cultuada está associada à erudição e ao sucesso académico. Assim, o Kitano Tenmangu é o local onde, geração após geração, os estudantes têm ido pedir sorte para os exames. A melhor altura do ano para o visitar é em Fevereiro, porque todo o recinto está cheio de ameixeiras ("ume") que florescem nessa época do ano. Mas se visitar em qualquer outra altura do ano, tente fazê-lo no dia 25 do mês, pois é quando se realiza uma feira às portas do templo. A feira é muito variada, e pode encontrar vários petiscos para comer, roupas, brinquedos, jogos para fazer com as crianças, de tudo um pouco.

Se possível, saia do Kitano Tenmangu pelo lado norte (ou então contorne o recinto e siga na direcção norte). Caminhe ao longo do rio Tenjin e, em Kuramaguchi-dori, vire à esquerda. Com esta caminhada de 20 minutos chegará ao Kinkaku-ji, provavelmente o monumento mais famoso de toda a Quioto. Na verdade, o Kinkaku-ji não é "visitado", já que se trata de um pavilhão inserido num jardim e ao qual não se tem acesso directo. Pode vê-lo do outro lado do lago, mas não ir lá mesmo. O Kinkaku-ji é apenas um dos encantos deste impressionante parque, o qual está cheio de jardins históricos, pequenos templos e casas de chá. Existe um bilhete para entrar no recinto, que custa aproximadamente cinco euros, mas vale a pena. O Kinkaku-ji original, do século XIV, ardeu completamente em 1950, mas foi reconstruído em 1955, incluindo no detalhe de ser inteiramente coberto a folha de ouro. Como costuma haver fila para adquirir bilhete e depois para entrar, considere comprar online o seu bilhete, com antecedência, ou através de um agente turístico.

Ao sair do parque do Kinkaku-ji, siga a pé para Este, percorrendo a Kita-Oji Dori. Após uma caminhada de 20 minutos chegará às portas de um outro complexo de templos e parques: o Daitoku-ji. Existem vários templos dentro deste complexo, com diferentes valores de bilhete. Recomendamos que visite pelo menos um (e talvez apenas um, para não comprometer o orçamento) e indicamos o Ryogenin, cuja entrada custa apenas dois euros e sessenta. Este templo budista, criado no início do século XVI, pertence ao secto Zen e é famoso pelos seus "jardins secos". Este tipo de jardins usa rochas, gravilha, pequenos tufos de musgo e outros elementos essencialmente secos para criar a impressão abstracta de paisagens. Estas paisagens remetem para cenários mais vastos na imaginação do observador e, em termos de função metafísica, ajudariam os monges a meditar. Este templo também lhe permite apreciar a arte da pintura em portas deslizantes, as quais eram usadas para separar os espaços interiores do templo, e ainda um artefacto histórico muito interessante para os portugueses: a primeira arma de fogo do tipo "mosquete de mecha" produzida no Japão, em 1583, a partir do modelo designado "Tanegashima" (por ter dado entrada no Japão por via da ilha de Tanegashima).

Se sair do Daitoku-ji pela Kita-Oji Dori e lhe apetecer uma refeição tradicional japonesa de sushi e sashimi da melhor qualidade, recomendamos que almoce no restaurante "Itsutsu", o qual fica na esquina da Kita-Oji Dori com a Daitokuji-Dori. Se não lhe apetecer gastar tanto dinheiro com o almoço, pode entrar na MG SHOP (supermercado) mesmo ali ao lado e comprar frutas e outros alimentos pré-cozinhados para um almoço mais ligeiro e económico.

Continue a pé pela Kita-Oji Dori, na direcção Este/Nordeste, até à estação Kita-Oji. Apanhe comboio/metro da direcção da estação central de Quioto (para sul) e saia em Karasuma. Saia da estação pela sua porta norte e vire à direita para a Nishikikori Dori. Siga para Este e percorra o Mercado de Nishiki: impressionante mercado urbano de estilo tradicional, cheio de vivacidade e boas oportunidades de compras, onde pode petiscar mais um pouco (os vendedores dão imensas provas!) e deliciar-se com a diversidade de produtos expostos.

Ao chegar ao fim da rua do mercado de Nishiki verá um pequeno santuário xintoísta. Vire à esquerda e, no fim do quarteirão, vire à direita, siga em frente e atravesse a rua Ura Teramachi Dori, continuando a pé até chegar à Kawaramachi Dori. Aí, observe o monumento do seu lado direito. Trata-se de um memorial surpreendentemente humilde, já que a individualidade à qual está dedicado é tão somente um dos mais significativos activistas políticos da história do Japão. Nesse preciso local, no dia 15 de Novembro de 1867, foi assassinado Sakamoto Ryoma, então com 33 anos. Nesse mesmo evento também ficou ferido o seu companheiro de armas, Shintaro Nakaoka, que tinha 30 anos, o qual veio a falecer dois dias mais tarde. Sakamoto Ryoma era da casta samurai, mas devido à sua simpatia pela causa rebelde que visava retirar do poder o Shogunato Tokugawa veio a ser considerado um fora-da-lei. A sua ligação com Shintaro Nakaoka, que era de Nagasaki e provinha de uma família de mercadores bem estabelecidos, deu-lhe ímpeto para comandar uma série de atentados que hoje em dia seriam considerados acção de guerrilha. O período da história do Japão que antecedeu a chamada "Restauração Meiji" - a colocação do Imperador de novo no poder - foi efectivamente um período muito conturbado, com diferentes visões acerca do futuro do país, dos planos de modernização e de qual a relação que o Japão deveria ter com o resto do mundo, particularmente no contexto da pressão exercida pelas potências coloniais ocidentais. A actual Kawaramachi Dori, sendo já então uma área de estabelecimentos comerciais e estalagens, reúne alguns dos memoriais mais importantes. Se desejar saber mais sobre a divisão de turismo cultural da cidade de Quioto e descarregar um mapa completo da área, siga para esta página.

Depois de apreciar o monumento siga na direcção sul e vire na primeira à esquerda (esquina com a loja de conveniência Family Mart). Vai chegar a um pequeno canal, um dos muitos nesta cidade, mas que tem um encanto especial quando as cerejeiras (sakura) estão em flor. O canal marca também a passagem para a área de Pontocho, um bairro de pequenos bares, restaurantes típicos, casas de entretenimento frequentadas por gueixas, clubes de acesso restrito, etc. Pontocho é o "distrito do entretenimento noturno", pelo que se quer mesmo ver tudo em acção volte ao serão num fim-de-semana. O lado Este de Pontocho é fechado pelo rio Kamo, que percorre a cidade na direcção norte-sul. Na parte do rio Kamo que fica encostada ao Pontocho pode ver as casas empoleiradas em estacas, e ao longo das margens existe um trilho para correr, caminhar, ou andar de bicicleta. Nas tardes de sol, os habitantes de Quioto vêm para aqui, estendem-se na erva e dormem uma soneca, ou então trocam dois dedos de conversa com um(a) amigo/a. Aqui pode sentir a atmosfera da Quioto dos dias de hoje, uma cidade onde sabem viver, onde apreciam o refinamento contido, onde a calma é um luxo.

Siga para sul ao longo do rio Kamo, passe a ponte Shijo Dori, atravesse a linha do comboio na estação Gion-Shijo. Os três quarteirões seguintes, do seu lado esquerdo, correspondem ao bairro de Gion, também ele um bairro que acorda para a vida quando o sol se põe, mas onde também pode surpreender-se com o encanto de uma gueixa ou uma maiko a passear na rua durante a tarde. Há homens que carregam riquexós e meninas que alugam quimono à hora para serem passeadas por eles (mas qualquer um pode alugar quimono, masculino e feminino, mesmo um turista, veja aqui). As casas de madeira escura parecem todas fechadas por fora, mas cada uma é uma ilha de prazeres à volta de um pequeno jardim interior. Há cafés e casas de chá para descansar um pouco.

O fim da rua Shijo Dori vai desembocar num dos maiores parques de Quioto: o Maruyama. Nesta vasta área existem vários templos, lagos, pequenos memoriais, escadinhas, caminhos entre as árvores floridas (na Primavera) ou vermelhas (no Outono). É uma delícia. Pode andar livremente, o acesso é gratuito.

Saia do Parque pela rua Jingu Michi, siga para norte, caminhe sempre na mesma rua durante 10 minutos, e chegará à zona dos museus e do Heian Jingu. O Heian Jingu é um caso muito peculiar de património cultural... Com efeito, o santuário em si não é propriamente antigo (data de 1895), mas foi construído num estilo revivalista, que reproduz arquitectonicamente e cromaticamente o tipo de santuários vermelhos de origem chinesa que estavam na moda em Quioto no período Heian (século VII d.C.). A sua construção foi encomendada por ocasião do aniversário dos 1100 anos de Quioto como capital imperial. Contudo, em 1895 Quioto já tinha sido abandonada como tal, visto que a capital se estava a mudar para Edo (denominada agora Tóquio). É uma espécie de "canto do cisne", uma velha senhora orgulhosa do seu estatuto no momento em que a história dá um salto para a frente e a deixa para trás.

Junto ao Heian Jingu existe um Centro de Artesanato onde pode fazer o seu próprio souvenir, ou então, se não for adepto de workshops, pode ver os artesãos a trabalhar ao vivo. Saiba mais aqui.

Ao sair do recinto do Heian Jingu, percorra o percurso ao longo do canal Okazaki na direcção Oeste, e ao chegar à beira do rio Kamo vire à direita. Chegará imediatamente à estação Jingu-Marutamachi, onde deverá apanhar comboio na linha Keihan Oto em direcção a sul, mas depois terá de mudar para a Keihan Main Line. A viagem de comboio irá levá-lo à parte de Quioto conhecida como "Fushimi", por onde entravam na cidade os canais de acesso aos grandes lagos e a Osaka, e portanto a via de acesso de produtos e mercadorias, bem como ideias, negócios e influências "estrangeiras" (dos portos de Osaka e outros). Desça do comboio na estação Fushimi-Momoyama. A cinco minutos a pé da estação, na direcção sudoeste, existe o Museu Gekkeikan Okura, dedicado à história do processo de fabrico do sake (bebida alcoólica) no Japão, e em particular em Quioto. Este museu orgulha-se de apresentar uma empresa familiar que está no activo desde 1637, e de facto o Museu é muito bom, informativo, barato, e incrivelmente bem preparado para os visitantes estrangeiros, sem contudo ser uma ratoeira turística. Pague o bilhete de pouco mais de cinco euros que vale a pena, pois dão-lhe várias amostras e existe um audioguia em inglês.

Depois das provas e de tanto andamento, já deve estar com fome, não? Vá até à estação de Chushojima, apanhe o comboio na linha Keihan e desça do comboio na estação Fushimi-Inari. Vale a pena aguentar estes 15 minutos de viagem de comboio porque em Fushimi-Inari pode comer a especialidade local. É que a divindade cultuada no famoso santuário que aqui se encontra (Inari Taisha) é a raposa - "kitsune" em japonês - e Kitsune também é o nome de uma deliciosa iguaria à base de tofu frito que é depois conservado numa calda ligeiramente doce. Há vários pequenos restaurantes na área onde pode provar Kitsune Udon (massa grossa com fatias de kitsune) ou o Inari Zushi (saquinho de Kitsune com recheio de arroz estufado). E depois, para fazer a digestão, visite o Inari Taisha, onde os inconfundíveis portões (tori) cor de laranja o levarão a recordar-se dos muitos filmes onde já apareceram ("Memórias de uma Gueixa", por exemplo).

A partir do Inari Taisha pode facilmente apanhar comboio para a estação central de Quioto. Mesmo se o seu alojamento não for perto desta estação, pode contar com o terminal de autocarros urbanos pois todos os circuitos passam neste local. Se quiser terminar o dia com uma extravagância, suba à Torre (mesmo em frente à estação). O bilhete são 11 euros e inclui o acesso à plataforma de vista panorâmica, sem limite de tempo. Por um custo adicional tiram-lhe uma fotografia num cenário temático.

Gostou deste itinerário? Sabia que este itinerário foi criado por uma líder de viagens que o pode ajudar a criar um plano personalizado para a sua viagem ao Japão? Aliás, até é possível acompanhar indivíduos ou pequenos grupos no Japão, comunicando em português e descobrindo todos estes recantos encantadores!

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